Não gostar do Natal e Amar o Natal.
Vamos lá ver.
Quando eu digo que não gosto do Natal não estou a ser implicante.
Em 365 dias há três que são garantidamente estranhos para mim. O Natal, a Passagem de Ano e o dia do meu aniversário. Não que a sensação não se repita em outros momentos, mas nesses casos a orgânica é completamente aleatória.
Fico melancólica, enfiada para dentro, "rabujas" e sem paciência.
É o que é. Não vale a pena pensar muito nisso.
Acresce a isto as expectativas defraudadas do último ano. Mas muita atenção, os meus natais em criança foram imensamente felizes. Não existe aqui nenhum ponto a precisar de psicanálise. E compreendo que não seja muito agradável para os meus familiares ouvirem/lerem que não gosto do Natal.
Enquanto escrevo já engoli meio rolo de fita-cola. Consegui finalmente comprar os presentes que tinha na lista e estou a embrulhá-los.
Eu gosto de dar presentes "porque" sim e não porque exista uma obrigação. Gosto de ajudar os outros nas compras, mas fico sempre sem saber o que comprar quando chega a minha vez.
Lá em casa simplificámos as coisas! Escrevemos o nome de todos num papelinho e em modo "sorteio" a cada um calha um familiar. E é essa a única prenda que trocamos. Entre tios e primos ficamos assim resolvidos. E só sabemos a quem calhámos na rifa depois de jantar - sim que lá em casa nunca se espera pela meia noite.
A casa dos meus pais é a casa do Natal. Tem uma sala muito grande e uma lareira maravilhosa que ajuda a entrarmos no espirito. Mas mais uma vez o Natal ficou em Lisboa. Este ano não há lareira, nem sala muito grande.
A única coisa que Amo no Natal é aquela que - felizmente - se mantém. Passo a tarde com a minha Tia Vanda na cozinha da casa eleita, conversamos muito e geralmente choramingamos um bocadinho. Se tenho muitos bons amigos, a minha Tia é a minha maior confidente, porque há um amor familiar mais especial.
Aos poucos vão chegando todos e num instantinho estamos todos juntos. São tão raros estes encontros.
Quero dizer... não é que não estejamos todos juntos algumas vezes durante o ano. Mas esta é a única noite em que estamos todos uns para os outros.
Com as minhas embirrações com o meu irmão, com as gargalhadas com ele também. Com as parvoíces com a minha prima mais velha e os mimos da mais nova. Com a Tia Lena e o seu sentido de humor impagável, o Tio Carlos sempre na sua calma, a Mãe a caprichar nos pratos e nos beijos e o Pai anfitrião do "bar" que garante que não nos falta nada - em todos os sentidos. Nesta noite aproveito sempre para lhe dar mais abraços e para me sentar ao lado dele no sofá com a minha cabeça encostada ao ombro.
Disto tudo eu gosto muito. Há um resto qualquer de que não gosto. Mas não é por falta de Amor.