o porquê da minha greve
Não sou uma revolucionária idiota.
Com isto quero dizer que não sou uma pessoa que tenha ideias geniais sobre como começar uma revolução.
Sou pacifista. O que não é de todo incompatível com querer ser revolucionária. Não sou conformada, mas talvez seja um pouco conformista. Tudo parte da não actividade.
Custa-me perceber que de facto existem pessoas em Portugal que vivem realmente mal.Tenho plena consciência que algumas dessas pessoas estão assim porque não se sujeitam a determinados tipos de trabalho, e não posso discordar mais deste comodismo. Sei também que muitas pessoas estão mal porque a conjectura económica não lhes dá outra hipótese.
Acho profundamente injustas as questões relativas às reformas, aos congelamentos e diminuições dos salários... as não progressões na carreira, o retrocesso dos direitos adquiridos pelos quais as gerações anteriores tanto lutaram. A falta de serviços básicos de saúde, as não comparticipações.
Quando me perguntam se acho que fazer greve muda alguma coisa, é com alguma tristeza que reconheço convictamente que não muda praticamente nada.
Quando me perguntam : então porque é que fazes greve?
O que respondo é que... como não sou uma revolucionária idiota e ainda não arranjei uma solução melhor, o mais que posso fazer é estar com aqueles que vão lutando pelos direitos em que acreditam, e em que eu acredito. Que lutam contra as injustiças absurdas que muitos vivem.
E por isso, ir trabalhar, ganhar o meu salário comodamente no final do mês, ser indiferente ao esforço dos outros seria compactuar e ser ainda mais comodista, seria um grande encolher de ombros.
E não posso.
Podia ocupar o meu tempo a tentar arranjar uma solução para o problema global.
Mas por enquanto, o máximo que faço é curar as feridas nos dedos das mãos que vou tocando.